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domingo, 3 de junho de 2012

Manejo sustentável é opção de renda na Caatinga

O bioma predominante no semiárido potiguar, a caatinga - que no Rio Grande do Norte ainda possui 53% de área remanescente - o que equivale quase ao tamanho do estado de Alagoas) pode ser uma fonte de renda permanente e lucrativa para o sertanejo. De forma legal e planejada, é possível tirar o sustento do corte da vegetação nativa, seja para uso residencial, da indústria ou do comércio, sem causar desmatamento e erosão. Essa alternativa tem nome: manejo florestal sustentável.

"O consumo de lenha em nosso país e, principalmente, no Nordeste é uma realidade e tem que continuar existindo, mas é possível continuar cortando lenha, de forma  legalizada, ordenada e sustentável", afirma o chefe da Unidade Regional Nordeste do Serviço Florestal Brasileiro, Newton Duque Estrada Barcellos. Ele anunciou que, na semana passada, o SFB,  órgão do Ministério do Meio Ambiente, começou a selecionar áreas do Seridó e da Chapada do Apodi para implantar projetos de manejo florestal comunitário na caatinga.A prioridade serão os assentamentos rurais e a agricultura familiar. No Seridó, o objetivo é legalizar o corte de lenha para uso da cerâmica vermelha; e na Chapada do Apodi, para a indústria do cal. No Estado, a expectativa da Unidade Regional Nordeste da SBF é de que o manejo florestal comece a ser implantado a partir do segundo semestre deste ano. Por ano, o consumo total de lenha no RN pelos setores industrial e comercial, seja para o uso direto ou para a transformação em carvão vegetal, é de 2 milhões de metros.

Atender essa demanda, de maneira sustentável e legalizada, exige o manejo de uma área de 200 mil hectares, segundo dados do SFB. Newton Barcellos explicou que o governo federal já garantiu recursos da ordem de R$ 3 milhões para atender todo o semiárido, principalmente, o RN e o Ceará, estados que possuem poucos planos de manejo florestal sustentável. "Os planos que existem (em torno de 25)", afirmou Newton Barcellos, "estão restritos a grandes proprietários".

No Estado, do consumo anual, apenas 4% é legal, segundo Newton Barcellos. Ou seja: 96% da caatinga é extraída ilegalmente. Em praticamente todo o semiárido potiguar, o sertanejo pratica, principalmente, na estiagem, o corte da vegetação nativa, seja para matar a fome do rebanho, seja para comercializar a lenha ou mesmo para uso doméstico  sem pensar no dia de amanhã.

A maioria dos 'cortadores de lenha', por instinto de sobrevivência, vai abrindo clarões, mata adentro, em busca de plantas que possam produzir lenha e carvão, sem dar condições de regeneração à esse bioma. No semiárido potiguar, entre 2002 e 2009, a caatinga perdeu mais de 1,2 mil quilômetros quadrados.

O monitoramento do Bioma Caatinga, feito pelo Ministério do Meio Ambiente, mostra que antes de 2002 esse bioma já havia perdido mais de 21,4 mil quilômetros quadrados. Segundo Barcellos, o plano de manejo florestal sustentável   vai fomentar "uma alternativa econômica, apesar da estiagem, e proteger o bioma caatinga". Dos biomas continentais brasileiros, presentes no Estado, a mata atlântica abrange 6% e a caatinga, 94% do território.

Segundo Newton Barcellos, o projeto visa o fomento, a promoção e o estímulo à floresta de produção. Ele disse que "não se pode tratar o corte de árvores da caatinga somente de maneira policial". "A exploração florestal precisa existir", enfatizou o engenheiro florestal, "até porque não há como chegar para quem trabalha com a lenha e dizer: agora você deve mudar para o gás".

No Estado, a indicação das áreas para a implantação dos planos de manejo foi feita por dois órgãos - o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra/RN) e a Secretaria Estadual de Assuntos Fundiários e Apoio à Reforma Agrária (Seara/RN), a partir de edital publicado pelo governo federal. Concluída a fase da seleção, a SFB vai abrir a contratação de assistência técnica especializada por, no mínimo, três anos. A autorização de manejo é dada pelo órgão ambiental estadual, no caso, o Idema - Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente.



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